Entenda por que certas músicas grudam na cabeça (earworm) e como transformar isso em aprendizado de inglês — ou como se livrar quando incomodar.

Você tá de boa e do nada começa:
“I got a feeling…”
— e esse feeling não vai embora.

Jerry ouvindo música que ficou grudada na cabeça e se divertindo com o Fill the Song


Essa repetição involuntária de música tem nome: earworm, ou mais formalmente, Involuntary Musical Imagery (INMI). Mas por que isso acontece? E dá pra usar a nosso favor?

O que é Earworm?

Segundo Liikkanen (2012), earworm é quando um trecho musical se repete involuntariamente na mente, sem controle consciente. Acontece com mais de 90% das pessoas — geralmente com músicas que ouvimos recentemente, com melodias repetitivas e letras marcantes.

Beaman e Williams (2010) explicam que músicas com frases curtas, andamento médio e repetições têm maior probabilidade de grudar. É o cérebro tentando completar um loop musical que ficou aberto.

O lado bom: fixação e memória

Sabe o que isso significa? Que o cérebro gosta de padrões — e repete eles quando pode. E isso tem um efeito direto na memória de longo prazo. Hyman et al. (2013) mostram que earworms podem ajudar a consolidar a memória verbal, funcionando como revisão inconsciente.

No campo da aprendizagem de línguas, essa repetição pode ser uma aliada. Silveira (2019) investigou o uso de músicas com alunos brasileiros e encontrou que trechos repetidos musicalmente ajudam na retenção de vocabulário e estruturas gramaticais.

Como usar isso pra aprender inglês?

Em vez de só “sofrer” com a música grudada, dá pra aproveitar. Algumas estratégias:

Escolha músicas com vocabulário útil e boa pronúncia.
Canções como Perfect, Thinking Out Loud e Love Yourself são boas pra isso.

Use a técnica de shadowing.

Arguelles (2006) defende que repetir imediatamente após ouvir ajuda na fluência e na prosódia.

Ative o aprendizado.

Plataformas como o Fill the Song permitem que você interaja com a música: complete lacunas, repita trechos, veja explicações. Isso aumenta a fixação — e transforma o earworm em aprendizado.

Grave e compare.

Repetir e se ouvir depois ativa o que Derwing e Munro (2005) chamam de self-monitoring, essencial pra melhorar pronúncia.

E quando quero tirar da cabeça?

Sabe aquele dia que a música repete tanto que irrita? Dá pra resolver.

Ouça a música inteira.

Williamson et al. (2012) mostraram que ouvir a canção completa ajuda o cérebro a “fechar o ciclo”.

Troque o foco cognitivo.

Ler em voz alta ou resolver uma tarefa mental pode desviar o loop (Beaman & Williams, 2010).

Troque por outra música.

O que eles chamam de cure tune — uma música “antídoto”.

Conclusão

O earworm pode ser incômodo. Mas também pode ser uma ferramenta poderosa. Se vai ficar na sua cabeça mesmo, que seja pra aprender inglês. E se for com método e interação, melhor ainda.

Referências

Arguelles, A. (2006). Shadowing Technique for Language Learning.
Beaman, C. P., & Williams, T. I. (2010). Earworms (‘stuck song syndrome’): Towards a natural history of intrusive thoughts. British Journal of Psychology, 101(4), 637–653. https://doi.org/10.1348/000712609X479636
Derwing, T. M., & Munro, M. J. (2005). Second language accent and pronunciation teaching: A research-based approach. TESOL Quarterly, 39(3), 379–397. https://doi.org/10.2307/3588486
Hyman, I. E., Burland, N. K., Duskin, H. M., Cook, M. C., Roy, C. M., McGrath, J. C., & Roundhill, R. F. (2013). Going Gaga: Investigating, creating, and manipulating the song stuck in my head. Applied Cognitive Psychology, 27(2), 204–215. https://doi.org/10.1002/acp.2897
Liikkanen, L. A. (2012). Musical activities predispose to involuntary musical imagery. Psychology of Music, 40(2), 236–256. https://doi.org/10.1177/0305735611406578
Silveira, R. (2019). Earworms e aprendizagem de línguas: uma análise de memorização inconsciente através de música. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, 19(3), 567–584.
Williamson, V. J., Jilka, S. R., Fry, J., Finkel, S., Müllensiefen, D., & Stewart, L. (2012). How do “earworms” start? Classifying the everyday circumstances of Involuntary Musical Imagery. Psychology of Music, 40(3), 259–284. https://doi.org/10.1177/0305735611418553